A Irlanda conseguiu que o FMI deixasse inalterado o imposto sobre o rendimento do capital, um imposto que está, aliás, num dos níveis mais baixos do mundo civilizado. Em troca, o primeiro-ministro propõe por exemplo uma descida de 11,5% do salário mínimo e um corte de 3 mil milhões de euros nas prestações sociais (se considerarmos, um pouco grosseiramente, que só os desempregados recebem estas prestações, e dada uma taxa de desemprego de cerca de 14% numa população de 4.470 milhões - e assumindo uma taxa de população activa de 70% - , isto significa um corte de 6800 euros por pessoa no ano 2011. Naturalmente, se considerarmos o dobro de beneficários, dá ainda assim um corte de 3400 euros por pessoa). Isto num país onde o sistema nacional de saúde pública cobra 70 euros por urgência e onde os transportes públicos da capital do país, à excepção dos autocarros, se resumem a uma linha de eléctrico e a uma linha de comboio urbano.
Pior que tudo isto é que nem sequer me deixam terminar este post malhando condignamente no modelo irlandês, demonstrando que foi criado numa desigualdade e que, quando a coisa começou a correr mal, se resolve com mais desigualdade. Quando fui consultar os dados da pobreza relativa, apercebi-me que, no próximo país da lista do FMI, os 10% mais ricos têm 15 vezes mais rendimento que os 10% mais pobres (página 195), contra os 9,4 vezes da Irlanda. E fiquei sem vontade de continuar este post.
Publicado por Sílvio
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