segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Bimbices

Estive largos anos adormecida para aquela realidade. A primeira vez que ouvi falar na Bimbi foi através do meu marido! Aparentemente existia uma nova máquina, muito comentada pelas suas colegas de trabalho, que era um milagre na cozinha. Confesso que pelas descrições das suas potencialidades, imaginei uma cozinheira andróide, que depois de decidir a refeição a fazer, prepará-la e cozinhá-la, ainda lavaria a cozinha. Perfeito, pensei eu, mas não para mim. Não porque não gostasse de ter quem me fizesse as tarefas, mas porque sou naturalmente desconfiada. Uma máquina que faz tudo, hum…
Mas o tempo passou e recentemente fui novamente confrontada com a sua existência. De repente, todos à minha volta a têm e elogiam, embora alguns mais do que outros. Enfim, quase rendida, foi com algum entusiasmo que acompanhei a compra da dita Bimbi por parte de uma amiga. Não assisti à famosa apresentação, naturalmente concebida para impressionar, mas fui convidada a jantar na sua casa no final da primeira semana após a sua compra. Agora é que seriam desfeitas todas as dúvidas.
Quando cheguei a casa da minha amiga, havia uma azáfama fora do normal.
- Ainda bem que chegaste, não tenho mãos a medir! – exclamou a minha amiga, no meio de uma confusão de ingredientes e recipientes.
- Precisas de ajuda – perguntei com alguma cautela, dada a confusão que parecia reinar na cozinha, onde também se encontravam o seu marido e filhos, todos ocupados em transportar ingredientes de um lado para o outro.
- Não, na realidade a Bimbi faz tudo, nem imaginas o que já fez esta semana, desde sopas, a croquetes e pastéis de bacalhau, de que eu nem gosto, diversos bolos, e até fiz uma pizza.
- Uma pizza? – retorquiu o meu marido – mas como é que a pizza já sai feita?
- Não digas disparates, a Bimbi prepara a massa e depois mete-se no forno – respondeu a minha amiga com alguma impaciência.
Enquanto todos conversavam eu pensava que a Bimbi não parecia ter poupado tempo à minha amiga, contrariamente à minha expectativa, mas antes a estava a obrigar a trabalhar mais, mas como o entusiasmo era tanto, abstive-me de fazer comentários.
Entretanto, a conversa prosseguiu no mesmo tom com a listagem das sofisticadas refeições cozinhadas, de peixe e de carne, dos sumos feitos, dos doces e bolos, e a exposição do que nos esperava para o jantar, pelo menos um sumo e um granizado, um bolo de chocolate, um bolo de iogurte e aletria, e ainda castanhas cozidas para uma comemoração atrasada do S. Martinho, tudo produto da Bimbi. Entretanto os restantes membros do meu agregado familiar, ou seja o meu marido e filhos, já com água na boca, das iguarias expostas e das descrições coloridas dos “pratos” preparados ao longo da semana, imaginavam um cenário em que a “mãe” gastaria 900 euros com a Bimbi, e como tal não poderia opor-se à compra de uma nova PlayStation ou IPod, ou um outro qualquer “gadget”.
Estávamos todos nós com água na boca e a antecipar uma enorme indigestão – que se veio a confirmar – quando me lembrei de perguntar:
- Afinal o que é o jantar?
- Ah! Vão adorar… são bifes na pedra!
 Publicado por Semheróis

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